Vou contar-vos uma história...
Era uma vez uma senhora, cujo pai adoeceu gravemente, tendo este que ser tranportado para um hospital em Coimbra, confesso que nao sei qual, ignoro também o problema de saúde do qual sofria, mas como não é o facto mais importante da história, até porque já se encontra bem....passo à frente, e prosseguindo, esse senhor foi colocado no quarto de um outro senhor, senhor esse que possuia um cancro, que fora levado para a sala de operações, mas que, ao ser aberto, fora constatado que o seu problema era mais grave do que parecera, e que, portanto, nada restava a fazer para o salvar, a não ser aguardar pela sua morte. Azar dos azares, a casa do senhor e da senhora sua esposa era muuuuiiiiito longe do hospital, e a viagem para o visitar não podia ser feita todos os dias, porém, ela fazia-o o maior número de vezes possível. O senhor encontrava-se num estado miserável em todos os sentidos...não se podia levantar, alimentar, tomar os comprimidos, e, espantosamente, as enfermeiras, pessoas extremamente cuidadosas e humanas, assim é como se afirmam, colocavam a medicação na mesinha que se encontrava ao seu lado, assim como a respectiva água (ele que se desenrascasse, afinal de contas estava pa morrer). Durante as visitas da esposa, ele pedia imensa água, tomava os seus comprimidos, e ate era alimentado, já quando ela não estava, o senhor padecia, com a boca seca, sem medicação, entregue a ninguém. Valia-lhe então, a filha do senhor que estava na cama ao lado, a quem a esposa pedira encarecidamente que não o deixasse morrer de sede.
A esposa desse senhor adoeceu, e ficou algum tempo sem se dirigir ao hospital, mas como já tinha trocado contactos móveis com a filha do senhor da cama ao lado, ligara-lhe e pedira-lhe novamente que olhasse por ele durante as visitas ao seu pai, mas a dita senhora não suportava aquela situação, pois além de lhe fazer mal a situação do pai, sentia-se revoltada com a situação do esposo da outra senhora e não regressou lá durante uns dias, tendo mesmo que recorrer a um psiquiatra, pois "mexera-lhe" com o sistema nervoso.
Dias mais tarde, ficara a saber, pelo seu pai que o senhor falecera, que no dia em que morrera se fartara de pedir água, mas que ninguém lá se dirigia, aliás, o senhor chamara muitas vezes as enfermeiras aos "gritos" ( já quase não conseguia falar) mas era ignorado.
Foi a filha do senhor da cama ao lado que ligara para a esposa a comunicar-lhe a sua morte, e, apesar de saber que o seu esposo iria falecer, esta, perguntou em prantos à outra senhora se ele não tinha sofrido, se tinha morrido em paz, se tinha tido a atenção necessária, à qual a outra senhora, também em prantos e muito abalada lhe respondera que sim, que tinha sido muito bem assistido, para que a pobre senhora não soubesse que o seu marido tinha sido tratado e desprezado como não se faz nem aos animais.
Esta história é verdadeira, por difícil que seja aceitar. Vivemos num mundo em que ser idoso, estar doente, ser deficiente ou não ter recursos é estar fora do "baralho", é ser posto à margem, é ser torturado.
Esperemos, sres/sras enfermeiras (é claro que não me dirijo a todas as enfermeiras em geral) , que nunca vos aconteça o mesmo.
BEIJINHOS Si